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24 de mai. de 2009

CAPACIDADES/FUNÇÕES PERCEPTIVO-VISUAIS


A estimulação perceptivo-visual é um instrumento fundamental para o desenvolvimento das capacidades perceptivo-visuais de todo ser humano e, principalmente às crianças portadoras de baixa-visão. Tal estimulação corresponde a um conjunto de situações pedagógicas que visam à aquisição de habilidades e melhoria das capacidades perceptivo-visuais.
A aplicação das técnicas de estimulação visual varia de acordo com as possibilidades visuais apresentadas pela criança, ou seja, dependentes das capacidades/funções perceptivo-visuais pré-existentes, bem como, das que se pretendem trabalhar. São estas:
PERCEPÇÃO VISUAL: Capacidade de interpretar o que é visto (desde a percepção da luz acesa da lanterna). É o processo pelo qual as informações recebidas pelo olho são transmitidas ao cérebro onde ocorre relacionamento com as experiências passadas. Tal habilidade requer maturação, ou seja, fatores neuromotores* e psicológicos, e experiência.
Ex: perceber (a existência, mudança, movimento, etc.) mesmo sem identificar e/ou interpretar especificidades.
EFICIÊNCIA VISUAL: Domínio do mecanismo ótico – envolve velocidade e capacidade de filtração. Tal habilidade é dependente do uso máximo de visão residual.
EXPERIÊNCIA VISUAL: Compreende: acuidade visual, reconhecimento e arquivamento da imagem, associação com experiências passadas e símbolo, e formação de conceitos.
Ex: a utilização da condição visual para sua vida, como, utilizá-la para se locomover, encontrar objetos de interesse, identificar tamanhos, formas, cores, larguras... visualmente, etc. Enfim, realizar atividades visuais significativas assimilando o experimento, bem como, realizando o registro em sua memória para uso indeterminado.
PERCEPÇÃO DE LUZ: Capacidade de indicar diferença entre claro e escuro (luminosidade), mesmo sem identificar de onde vem esta luz.
PROJEÇÃO DE LUZ: Capacidade de indicar a origem do foco da luz. (neste caso, observam-se também diferenças na focalização da luz em distâncias variadas, ou seja, a aquisição requer projeção de luz a maior distância, compara a análise anterior).
FIXAÇÃO: Refere-se ao ato de focar os olhos sobre um objeto ou estímulo visual sobre o papel. Neste caso também é possível identificar a distância melhor para focalização, e, mediante esta realizar um melhor trabalho na aquisição das habilidades.
OCLUSÃO VISUAL: Capacidade de perceber uma figura completa quando somente uma porção é visível.
PISTA VISUAL: Qualquer tipo de informação visual usada por uma pessoa para orienta-se e mover-se no espaço, além de desempenhar qualquer tarefa ou função, ou localizar um lugar ou objeto desejado.
SÍMBOLOS: Termo usado para se referir a letras e palavras que apareçam isoladamente (ou com outras), e, que podem ou não, estar associadas com objetos concretos ou gravuras.
VISÃO BINOCULAR: Uso simultâneo de ambos os olhos na focalização de um mesmo objeto e fundir as duas imagens para uma interpretação correta.
CAMPO VISUAL: Toda a área do espaço físico visível quando o corpo, a cabeça e os olhos estão imóveis, frente ao estímulo observado.
SEGUIMENTO VISUAL: Seguir com os olhos (visualmente) objetos em movimento (de cima para baixo, vice-versa, de um lado para o outro, na diagonal, etc.).
ACOMODAÇÃO: São ajustes que o olho realiza para ver a diferentes distâncias, executado pela mudança de forma do cristalino através da ação do músculo ciliar na focalização de uma imagem clara na retina.
ACUIDADE VISUAL: Refere-se a uma medida da capacidade de distinguir claramente os mínimos detalhes.
FUNCIONAMENTO VISUAL: Significa interpretar e compreender significativamente o que se vê.
FIGURAS: Refere-se aos contornos de objetos e formas geométricas e lineares com ou sem detalhes.
ATENÇÃO VISUAL: Olhar prolongadamente objetos ou figuras. As crianças com déficits corticais apresentam maior dificuldade para aquisição desta habilidade.
BRILHO (OFUSCAMENTO): Qualidade de brilho relativo da luz que cause desconforto no olho ou que interfere com a visibilidade e desempenho visual.
CONTRASTE: A diferença relativa entre o claro e escuro nas coisas (objetos) observadas.
PERCEPÇÃO DE PROFUNDIDADE: A capacidade para perceber a distância relativa de objetos e sua relação espacial com outros.
DIFERENCIAÇÃO DE FIGURA-FUNDO: Capacidade para perceber a distância relativa de objetos e sua relação espacial com outros.
DIFERENCIAÇÃO DE FIGURA-FUNDO: Capacidade para discriminar objetos visíveis, separando-os do fundo.
VISÃO PERIFÉRICA: Percepção de objetos, movimento, ou cor, fora da linha central da visão.
FOTOFOBIA: Anormalidade sensitiva, desconforto pela luz.
MAGNIFICAÇÃO: Um aumento no tamanho de um objeto ou símbolo percebido.
NISTAGMO: Movimento involuntário do globo ocular sintomático de disfunção neurológica. Pode ser vertical, lateral, rotatório ou misto, e intermitente.
INFORMAÇÃO VISUAL: Conhecimento do ambiente e das coisas adquirido através do sentido visual.
VISÃO RESIDUAL: Qualquer visão remanescente útil presente ou que possa ser desenvolvida apesar de imperfeição severa em qualquer das estruturas ou tecidos dos olhos, ou em alguma parte do sistema visual.
SISTEMA VISUAL: Todas as partes componentes do olho, nervo óptico, cérebro e associação de estágios que influenciam olhar e ver.
EXPLORAÇÃO VISUAL: Cuidado inspeção de objetos visíveis ou de ambiente circundante. Geralmente as crianças de baixa visão necessitam tocar e manipular o objeto, pois, carecem de visualizá-los em diferentes níveis e posições para uma melhor visualização e exploração visuais.
Estas capacidades/funções perceptivo-visuais somente podem ser desenvolvidas mediante análise e utilização de modificações nas condições ambientais:
1. Controle da iluminação: aumentando-se a iluminação ambiental com focos luminosos para objetos, folhas de trabalho, textos, etc...
2. Transmissão da luz: com auxílio de lentes absortivas e filtros que diminuem o ofuscamento e aumentam o contraste.
3. Controle de reflexão, com tiposcópios, visores, oclusores laterais e lentes polarizadas.
4. Acessórios: caneta de ponta porosa preta, lápis de escrever 6B, papel com pautas pretas, figuras sem muitos detalhes e com traçado escurecido e nítido (pré-escolar), suporte para leitura e partituras musicais.
5. Aumento de contraste: usando-se cores bem contrastantes (preto/branco, preto/amarelo, branco/vermelho, etc.) em materiais como: folhas de papel em geral, canetas porosas, quadro branco/caneta preta, quadro-de-giz (preto)/giz branco, cores escuras em fundo brilhoso (papel laminado) e/ou vice-versa.
6. Ampliação: desenhos, figuras, exercícios, livros, jogos, etc.
Assim, com as adaptações ambientais necessárias é possível realizar um trabalho promissor durante os atendimentos de estimulação visual, concomitante, a utilização de seu resíduo visual para maturação da capacidade visual em seu ambiente (casa, escola, ou qualquer lugar onde possa ser realizada adaptação e que seja do convívio da criança).

* (VER “A Reação Pupilar e sua Importância)

20 de mai. de 2009

A REAÇÃO PUPILAR E SUA IMPORTÂNCIA

 
No início do trabalho com crianças de baixa visão, especificamente nos atendimentos com estimulação visual, sempre me perguntava “quando?”, “até quando?” e se “é preciso?” utilizar a técnica da luz de lanterna, e ainda, “como?”. Tais dúvidas me fizeram pesquisar através de livros e até marcar consultas e/ou fazer visitas aos oftalmologistas para pedir esclarecimentos, tirar dúvidas e até solicitar ajudas e conselhos.

Foi difícil, mas consegui tirar algumas dúvidas quanto a estes questionamentos. Espero que tais informações possam ajudá-los. E, caso tenham dúvidas quando a sua veracidade procurem profissionais oftalmologistas que possam ajudá-los, assim como foi o meu caso.
Uma das formas de se adquirir maiores informações está durante aplicação de conhecimentos teóricos adquiridos anteriormente. No entanto, é preciso saber observar certos detalhes, como: reações faciais, reflexos pupilares, movimentos óculo-motor e se há resposta por parte da criança (consciência da existência do objeto de observação).
A maior interrogação era quanto à mudança da dimensão das pupilas na apresentação de luz branca e coloridas, bem como, quando permaneciam por algum tempo em lugares escuros e mediante a aproximação de objetos. De acordo com DANTAS & ZANGALLI (1999, p. 256): “A incidência dos raios luminosos sobre a pupila leva à modificação do diâmetro das mesmas.” É o mesmo efeito encontrado na adaptação automática do diafragma de uma máquina fotográfica. Essa modificação do diâmetro da pupila é conhecida como reflexo pupilar. Muitos reflexos permanecem entre os adultos, mas os reflexos primitivos (de recém-nascido) desaparecem na medida em que o córtex vai se desenvolvendo totalmente.
O movimento de contração pupilar protege a retina e os fotorreceptores contra a exposição excessiva aos raios luminosos, além de tornar mais nítida à imagem óptica de um objeto que se projeta sobre a retina, principalmente em ambientes bem iluminados. A contração da pupila acontece quando se vê um objeto próximo (reflexo de acomodação) ou há uma estimulação luminosa (reflexo fotomotor). Num olho normal, diante da projeção da luz, ocorre uma contração breve, relaxando-se ligeiramente até que o diâmetro pupilar fique constante.
Ao posicionar a luz da lanterna incidindo sobre os olhos percebe-se uma reação pupilar denominada de arco reflexo. O arco reflexo é uma reação involuntária instantânea, consciente ou não, que visa proteger ou ajustar o organismo. Tal reação origina-se de estímulos externos (neste caso, a luz da lanterna) antes mesmo do cérebro tomar conhecimento do estímulo periférico, conseqüentemente, antes deste comandar uma resposta. “O arco reflexo não envolve o córtex cerebral; portanto as reações pupilares não se tornam conscientes.” (DANTAS & ZANGALLI, 1999, p. 256)
O diâmetro da pupila muda em resposta à luz e ao esforço para focalizar um objeto próximo. O diâmetro pupilar depende dos seguintes e principais fatores diretos: tecido iriano, impulso parassimpático, impulso simpático, fatores humorais. Ainda, diversas influências indiretas também interferem, conduzindo suas informações através dos fatores diretos.
Quando ocorrem comportamentos anômalos das pupilas sugere-se tratar-se especialmente de doenças no nervo óptico, e, de forma menos significativa poderá tratar-se de lesões retinianas maculares. Na cegueira cortical e na simulação de cegueira as pupilas comportam-se de maneira normal.
O reflexo de perto (convergência e acomodação) que acontece durante aproximação progressiva de um objeto fixado pelo centro para a visão nítida desencadeia três reflexos diferentes:
1. Convergência: os eixos de ambos os olhos convergem sobre o objeto. Desta forma, as imagens do objeto se projetem exatamente sobre as áreas correspondentes das retinas, ou seja, sobre as áreas de maior acuidade visual;
2. Acomodação: a contração do músculo ciliar leva o cristalino, a tomar uma forma mais arredondada, assim, a imagem permanece focalizada durante todo o percurso de aproximação do objeto.
3. Contração das pupilas: a contração pupilar faz com que a imagem continue apresentando contornos nítidos.
“Estas três reações podem ser desencadeadas pela fixação voluntária do olhar sobre um objeto próximo. Elas se instalam de forma reflexa toda vez que um objeto distante se aproxima simultaneamente.” (DANTAS & ZANGALLI, 1999, p. 258)
É preciso conhecer as condições visuais de uma criança antes de iniciar sua estimulação visual. É sempre recomendado acompanhar as consultas oftalmológicas, assim poderá tirar dúvidas e obter maiores informações, assim como, qualquer alteração na reação pupilar da criança, durante os atendimentos, devem ser comunicados ao oftalmologista.
Em alguns casos, é preciso utilizar estímulos com luzes de lanterna para treino dos reflexos pupilares, necessariamente em casos de reflexos pupilares lentos. O exercício de atividades de contraste seja com uso de luzes de lanterna ou não também contribuem para o bom desempenho pupilar. O médico-oftalmologista, especialista em baixa visão, ou o profissional técnico de estimulação visual também poderão ajudar.
É importante ressaltar o cuidado que se deve ter com relação à utilização de folhas e superfícies brilhosas na confecção ou uso de recursos para baixa visão, principalmente se for utilizado com o objetivo de desenvolver habilidades funcionais visuais, pois, os reflexos causados por estes tipos de materiais podem prejudicar a evolução destas habilidades em crianças com resíduo visual.
As informações obtidas com relação ao desenvolvimento de habilidades visuais é prioridade para o conhecimento dos pais, pois estes podem contribuir reforçando os estímulos em seus lares, bem como, tal conhecimento, favorecerá maior interesse e credibilidade deste serviço. Sabemos que, nos períodos iniciais, as respostas são lentas e isto favorece a descredibilidade com relação a aquisição de melhorias quanto ao desenvolvimento da criança.

17 de mai. de 2009

LISTA DE OBSERVAÇÕES DO PROFESSOR: o ABC da dificuldade visual (José, 1988)

 
Aparência dos olhos do aluno:
1. Vesguear (para dentro ou para fora) a qualquer momento, especialmente quando está cansado.
2. Olhos ou pálpebras avermelhados.
3. Olhos aquosos.
4. Pálpebras afundadas.
5. Terçol freqüente.
6. Pupilas nubladas ou muito abertas.
7. Olhos em constante movimento.
8. Pálpebras caídas.

Sinais de possíveis dificuldades visuais, no comportamento:
1. Corpo rígido ao ler ou olhar para um objeto distante.
2. Inclinar a cabeça para a frente ou para trás ao olhar para objetos distantes.
3. Omissão de tarefas de perto.
4. Períodos curtos de atenção.
5. Giro de cabeça para utilizar um só olho.
6. Inclinação lateral da cabeça.
7. Colocação da cabeça muito próxima ao livro ou à carteira ao ler ou escrever; manter o material muito perto ou muito longe.
8. Franzir a sobrancelha ao ler ou escrever.
9. Piscar em excesso.
10. Tendência a esfregar os olhos.
11. Tapar ou fechar os olhos.
12. Falta de gosto pela leitura ou falta de atenção.
13. Fadiga incomum ao terminar uma tarefa visual ou deterioração da leitura após períodos prolongados.
14. Perda da linha.
15. Uso do dedo ou lápis como guia.
16. Leitura em voz alta, ou movendo os lábios.
17. Mexer a cabeça, no lugar dos olhos.
18. Dificuldades gerais de leitura: tendência a inverter letras e palavras, ou a confundir letras e números com formas parecidas (p. ex.: a e c, f e t, e e c, m e n, n e r) omissão freqüente de palavras ou tentativa de adivinhá-las a partir do reconhecimento rápido de uma parte.
19. Esbarrar em objetos.
20. Espaços escassos ao escrever, ou incapacidade para seguir a linha, inversão de letras ou palavras ao escrever e copiar.
21. Preferência pela leitura, em contraposição ao jogo ou às atividades motoras ou vice-versa.

Queixas associadas ao uso dos olhos:
1. Dores de cabeça.
2. Náuseas ou vertigens.
3. Ardor ou coceira nos olhos.
4. Visão turva a qualquer momento.
5. Confusão de palavras ou linhas.
6. Dores oculares.

Fonte: RUIZ, Maria Cristina Pérez; MOLINA, Diego Rando; BUENO, Maria Concepción Toro; & LARA, Rafael Torres. Diagnóstico e Avaliação do Funcionamento Visual. Deficiência Visual: Aspectos Psicoevolutivos e Educativos / MARTIN, Manuel Bueno & BUENO, Salvador Toro, 2003. Editora Aljibe, S.L. Livraria Santos Editora Ltda.

14 de mai. de 2009

Sintomas e sinais mais comuns de alterações visuais


Sintomas:
- Tonturas, náuseas e dor de cabeça;
- Sensibilidade excessiva à luz (fotofobia);
- Visão dupla e embaçada;
Condutas do aluno:
- Aperta e esfrega os olhos;
- Irritação, olhos avermelhados e/ou lacrimejantes;
- Pálpebras com as bordas avermelhadas ou inchadas;
- Purgações e terçóis;
- Estrabismo;
- Nistagmo (olhos em constante oscilação);
- Pisca excessivamente;
- Crosta na área de implante dos cílios;
- Franzimento da testa ou piscar contínuo para fixar perto ou longe;
- Dificuldade para seguimento de objeto;
- Cautela excessiva ao andar;
- Tropeço e queda freqüentes;
- Desatenção e falta de interesse;
- Inquietação e irritabilidade;
- Dificuldade para leitura e escrita;
- Aproximação excessiva do objeto que está sendo visto;
- Postura inadequada;
- Fadiga ao esforço visual.

FONTE: MEC. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual vol. 1 fascículos I – II – III / Marilda Moraes Garcia Bruno, Maria Glória Batista da Mota, colaboração: Instituto Benjamin Constant. _______Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2001.

13 de mai. de 2009

AMBLIOPIA – Um mal silencioso, mas que tem cura.


NOTA DE ESCLARECIMENTO: Queridos colegas, diante da quantidade de emails enviados com dúvidas e pedidos de modelos de atividades, resolvi acrescentar a esta postagem as seguintes informações:
1. Sabemos que os atendimentos de estimulação apresentam melhor resultado com crianças em fase de desenvolvimento visual (até os 13-14 anos). Entretanto, tenho experienciado alguns resultados positivos com pessoas com mais idade. Não existe nenhuma comprovação escrita ou registrada que eu saiba e tampouco contra-indicação para o treino dessas atividades. O que não se pode e não se deve é ocluir nenhum dos olhos, pois, poderá prejudicar o funcionamento dos mesmos. No entanto, eu, acredito que com algumas atividades específicas de acomodação será possível, pelo menos, minimizar tais dificuldades. Mas.. vejam bem... SUGIRO QUE DEVAM PROCURAR A OPINIÃO DO SEU MÉDICO-OFTALMOLOGISTA.
2. As atividades se encontram em artigos publicados aqui no blog, bem como no blog SOS PRODUZINDO E RECICLANDO RECURSOS.



 A expressão ambliopia é originária do grego (amblios = lerda e ops = visão) e significa literalmente “visão lerda”. Trata-se da deficiência de desenvolvimento normal do sistema visual de um ou, mais raramente, ambos os olhos (uni ou bilateral), sendo os 3 primeiros meses de vida considerados período crítico neste processo e durante o período de maturação do SNC (Sistema Nervoso Central) - especificamente causando limitações ao progresso da visão (que é maior em sua amplitude até aproximadamente os 6-7 anos de idade) - sem que haja lesão orgânica ou com uma lesão orgânica desproporcional à intensidade da baixa visual.
“A visão binocular tem um rápido desenvolvimento a partir da coordenação ocular dos 3 até os 12 meses, o que proporciona a percepção espacial e a visão de profundidade. As conexões celulares e a plastificação neuronal são intensas até os 3 anos, por isso as alterações visuais como ambliopia e estrabismo devem ser corrigidos de preferência no primeiro ano de vida, para resultados de grande eficiência.” (MEC, p.46)
A baixa acuidade visual encontrada na ambliopia é devida ao desenvolvimento incompleto da visão foveal, estando a visão periférica preservada e o campo visual e acuidade escotópica normais. Isso quer dizer que a causa desse déficit não está especificamente no olho, mas sim, na região cerebral correspondente à visão e que não foi devidamente estimulada no momento certo (“o olho não aprende a ver”), assim, se ocorrerem alterações que impedem o foco de imagens nítidas na retina, o olho não amadurece a visão.
O olho amblíope não apresenta um amadurecimento normal da visão e é popularmente conhecido como “olho preguiçoso”, mesmo assim, não se encontra nenhuma lesão ocular ao exame oftalmológico, as estruturas oculares apresentam-se aparentemente normais (sem alteração orgânica), ou seja, é um problema puramente funcional, podendo ocorrer mesmo que a criança faça uso de óculos.
Em outras palavras, ambliopia é uma disfunção (um defeito para o qual não existem causas orgânicas, estruturais, do olho, nem do sistema de formação de suas imagens) revelada, sobretudo, por diminuição da acuidade visual. Tanto que um dos sinais mais típicos da ambliopia é o da discrepância entre a acuidade visual tomada com figuras isoladas e a da aferida com figuras de mesmo tamanho, mas agrupadas, ou simplesmente emolduradas por barras, isto é, com influência de contornos (onde a acuidade visual tomada é menor do que a tomada com figuras de mesmo tamanho, mas isoladas), por depender de funções corticais mais elaboradas, perceptuais e cognitivas, daí a dificuldade de desempenho.
Sabemos que cada um dos dois olhos envia uma imagem para o cérebro, e este precisa juntá-las formando uma só. Quando ambos fixam num ponto comum, enviam uma mesma imagem obtendo assim facilmente a fusão destas imagens. Porém, quando cada olho está fixando num ponto dessemelhante, o cérebro recebe duas imagens distintas entre si e não consegue juntá-las. Como defesa, o cérebro elimina automaticamente a imagem que vem do olho desviado causando a supressão deste olho, impedindo-o de seu desenvolvimento visual tornando-o mais fraco (amblíope ou olho preguiçoso).
Qualquer fator que impeça a formação do foco da imagem na retina são terríveis causadores deste mal, tais como:
• Estrabismo (olho torto): maior responsável por grande parte dos casos (devido diferença de erro de refração entre os olhos – alta hipermetropia e astigmatismo). O estrabismo acontece quando ocorre desarmonia entre os dois eixos visuais paralelos e tal alteração é perene, entretanto, o estrabismo intermitente não acarreta deficiência grave. A visão foveal do olho desviado será inferior à daquele que fixa normalmente pela mácula.
• Ametropia: erros refracionais significativos e não corrigidos em ambos os olhos impedem a formação de uma imagem nítida, dificultando o pleno desenvolvimento da acuidade visual.
• Anisometropia: diferenças superiores a 2,0 dioptrias entre ambos os olhos (seja por miopia, hipermetropia ou astigmatismo) poderão gerar uma interação binocular irregular, ocasionando um fenômeno de supressão na visão do olho mais prejudicado. Em crianças, quando não corrigida a tempo, a anisometropia pode inclusive levar à ambliopia no olho que tem um maior erro de refração.
• Por privação (ou "ex-anopsia"): é originada pela existência de um obstáculo à chegada da luz à retina em toda a sua magnitude, evitando a formação de uma imagem bem definida. Os agentes podem ser: leucoma corneano, catarata congênita uni ou bilateral, ptose palpebral, opacidades vítreas, hifema, dentre outras.
Apesar de sua incidência em crianças em idade escolar ser de aproximadamente 4%, em geral, é prevenível ou tratável nos primeiros anos de vida. A prevenção da ambliopia definitiva está no exame oftalmológico de todas as crianças antes dos dois anos de idade. No entanto, nos casos dos estrabismos de pequeno ângulo, bem como diferenças de grau, pode passar despercebida aos pais e ao médico não especialista.
Na maior parte dos casos, a ambliopia deve ser detectada e tratada antes da idade escolar, quando a visão ainda está em pleno desenvolvimento, porém não é fácil de ser detectada, principalmente pela criança, pois estas não possuem maturidade e nem conhecimento para que percebam tal impedimento. A não ser que esteja associa com outra doença, como Estrabismo, é difícil de reconhecer a ambliopia. Recomenda-se que as crianças sejam examinadas por um oftalmologista antes dos 3 anos de idade. O pediatra ou médico da família deve encaminhar a criança antes deste período caso identifique algum sinal de alteração ocular. Caso exista uma história familiar de estrabismo, catarata congênita ou outra doença ocular da infância o oftalmologista poderá examinar a criança mais precocemente.
Seu oftalmologista pode fornecer a orientação adequada para corrigir a ambliopia. O tratamento clássico e mais conhecido ainda começa com o uso de correção óptica (se indicada) seguida da oclusão do olho de melhor visão, desta forma, induzirá o “olho preguiçoso” ao trabalho. No caso da ambliopia acontece, por alguma razão, o olho não conseguir melhorar a visão apenas usando a correção óptica (óculos).
É importante salientar que as ambliopias não tratadas até os seis anos de idade são consideradas irreversíveis. O tempo para oclusão depende da intensidade e da idade do paciente (o médico-oftalmologista especialista é quem dirá o tempo e a duração desta conduta).
A participação dos pais é fundamental, pois, a oclusão do olho bom comumente não é bem aceita pela criança (que não quer ficar apenas com o olho ruim) e a persistência dos pais no tratamento deve ser mantida para a recuperação da visão da criança. O sucesso do tratamento depende do interesse e envolvimento dos pais e de sua habilidade em conquistar a confiança e colaboração da criança.
Não adianta tratar exclusivamente a causa da ambliopia, deve-se também coagir o cérebro a valer-se do olho fraco para estimulá-lo e, mesmo que o olho fraco recupere-se talvez seja preciso o uso parcial do tampão para manter o desenvolvimento (fato este que justifica literalmente o uso do tampão no período do tratamento que poderão perdurar dias, semanas, meses e até anos – pode prolongar-se até os 9 anos de idade e possivelmente, quando o tratamento é seguido corretamente, sob orientação médica e na época adequada, após essa idade a cura ocorre na grande maioria dos casos). Em algumas circunstâncias, principalmente quando a ambliopia é bilateral, é necessário realizar a oclusão alternadamente, ou seja, primeiro no olho direito e depois no olho esquerdo (geralmente com intervalo de 24hs entre uso de tampão para cada olho).
Em casos menos extremos são prescritos óculos para corrigir erros na focalização. Ocasionalmente usam-se colírios ou lentes no olho bom. Eles embaçam a vista para que o outro olho seja usado.
Uma vez instalada, a ambliopia pode ser revertida ("curada"), mas na dependência de alguns fatores. Basicamente, todavia, as medidas terapêuticas dizem respeito à "aprendizagem" visual, pelo sistema sensorial imaturo e afetado. A eficácia no tratamento varia de acordo com:
1. Idade: é fator fundamental para todos os casos, já que a ambliopia pode ser entendida como decorrente do não estabelecimento das competências neuronais (visuais), por suas vezes dependentes de estimulações visuais adequadas e precoces. Não há padrões fixos, mas a regra vale para todos os tipos: quanto mais cedo se puder iniciar o tratamento, melhor. Nas ambliopias por privação, a recuperação total dos valores de acuidade visual é muito difícil, mesmo com a correção da causa (nos casos de cirurgia de catarata congênita) e a suplementação óptica realizadas bem precocemente. Contudo, nas ambliopias por estrabismos, são comuns as recuperações completas, apesar de idades de início de tratamento relativamente tardias (ex: 7-8 anos).
2. Erradicação das causas: embora nem sempre suficiente, a remoção de opacidades (cirurgia de uma catarata congênita, de um leucoma, etc.) e a compensação óptica apropriada (lentes corretoras de defeitos ópticos) são, geralmente, as únicas medidas plausível no caso das ambliopias de privação e no das altas ametropias. Quando o elemento ocasionador é o cortical, "ativo" (a supressão), a estimulação à recuperação torna-se indispensável. Em casos de estrabismos a correção do desvio dos eixos visuais (levando à diplopia e à confusão mental) favorece-se por sua conseqüência (a ambliopia), isto é, primeiro trata-se da ambliopia (há casos em que se percebe melhora e/ou cura dos estrabismos existentes). Nos episódios onde ocorrem apenas melhora a correção cirúrgica do estrabismo deve é feita após o tratamento da ambliopia. Mas nisso não há um paradoxo, posto que o fator causal da ambliopia seja a supressão cortical e não o estrabismo em si mesmo.
3. Estimulação visual (“aprendizagem visual”): a estimulação cortical será igualmente mais eficaz quanto mais apto ao "aprendizado" estiver o sistema sensorial, ou seja, quanto mais cedo essas conexões neuronais puderem ser estabelecidas. O esquema terapêutico também dependerá de uma série de fatores por isso deve ser indicado e administrado pelo médico-oftalmologista especializado.
De acordo com Fonseca (1995), além das dificuldades visuais, ambliopia poderá favorecer a aquisição de dificuldades de aprendizagem ocasionadas por alterações no funcionamento do sistema sensorial principal, a visão, ocasionando assim problemas perceptivos que comprometem a discriminação, síntese, memória e relação espacial e visualização.
Há episódios em que o processo de estimulação à visão do olho amblíope é feito por atenuação dos estímulos chegados ao outro olho, o dominante, de modo que prevaleça a preferência pelo primeiro olho, o amblíope. Esse enfraquecimento, ou medida repressiva do olho “bom” pode ser feita por oclusão translúcida ou até mesmo por anteposição de uma lente propositalmente inadequada á correção óptica, criando-se assim uma anisometropia. Obviamente esse artifício só deve ser recomendado se, com o enfraquecimento, a preferência visual mudar do olho de melhor visão para o olho tratado.
4. Adesão ao tratamento: a determinação e disciplina na bom emprego da oclusão do olho "bom" são fundamentais na obtenção dos bons resultados.
5. Gerenciamento: alterações no esquema terapêutico são freqüentes e necessárias, tanto no sentido de propostas de aumento do rigor nas aplicações, se as respostas então obtidas estiverem abaixo das esperadas, quanto em suas reduções, se forem boas.
6. Acompanhamento: é freqüente as possíveis recaídas da visão no olho amblíope e talvez seja necessária a eventual retomada da terapêutica, por isso, recomenda-se, mesmo após a normalidade da acuidade visual ou obtenção da equalização da visão nos dois olhos, que a alta definitiva não seja dada antes das idades em que os valores de acuidade visual se tornem muito bem consolidada (entre 9-12 anos de idade).
Eis aqui algumas recomendações importantes:
- A verificação da acuidade visual em idade pré-escolar é fundamental para a prevenção de muitas patologias;
- Possibilidade de diagnóstico precoce pelo médico oftalmologista especialista.
- Iniciar o tratamento o mais precocemente possível, além de segui-lo corretamente, sob orientação médica e na época adequada.
- Uso precoce de óculos (não existe idade mínima para o uso de óculos) sob prescrição de oftalmologista especializado.
- Manutenção do tratamento: Persistência dos pais ou responsáveis.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
BICAS, Harley E. A. Ambliopia: um texto explicativo e simplificado. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo. São Paulo: 2008.
FONSECA, Vitor da. Introdução às dificuldades de aprendizagem. São Paulo: 1995.
MEC. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual vol.’ Fascículos I – II – III / Marilda Moraes Garcia Bruno, Maria Glória Batista da Mota, colaboração: Instituto Benjamin Constant. __________ Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2001. 196 p. (Série Atualidades Pedagógicas; 6). Deficiência Visual. I.
SITES: www.cbv.med.br; www.oftalmo.com.br; pt.wikipedia.org; www.portaldaretina.com.br; atlas.ucpel.tche.br; www.oftalmopediatria.com.br; www.oticascussel.com.br.
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"Muitas mudanças ocorreram nos últimos vinte anos, quando teve início a prática da Baixa Visão em nosso país. O oftalmologista brasileiro, porém, ainda não se conscientizou da responsabilidade que lhe cabe ao determinar se o paciente deve ou não receber um tratamento específico nessa área. Infelizmente, a grande maioria dos pacientes atendidos e tratados permanece sem orientação, convivendo, por muitos anos com uma condição de cegueira desnecessária." (VEITZMAN, 2000, p.3)

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NÃO ESQUEÇA!....

NÃO ESQUEÇA!....

FONTES PARA PESQUISA

  • A VIDA DO BEBÊ - DR. RINALDO DE LAMARE
  • COLEÇÃO DE MANUAIS BÁSICOS CBO - CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
  • DIDÁTICA: UMA HISTÓRIA REFLEXIVA -PROFª ANGÉLICA RUSSO
  • EDUCAÇÃO INFANTIL: Estratégias o Orientação Pedagógica para Educação de Crianças com Necessidades Educativas Visuais - MARILDA M. G. BRUNO
  • REVISTA BENJAMIN CONSTANT - INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT