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11 de ago. de 2008

RELAÇÃO DA BAIXA VISÃO E A APRENDIZAGEM


A percepção visual decorre da conexão entre dois mecanismos, o “ver” (de caráter fisiológico) e o “olhar” (de caráter cognitivo e psicológico). O ato de “ver” envolve a percepção pelo olho de padrões de luz (móveis / estáticos, sombra / matiz) e a transferência dessas informações para o cérebro. O “olhar”, no entanto, está revestido de artifícios psicológicos, onde o cérebro combina operações perceptivas e conceituais para responder a estímulos visuais com interpretação intencional do significado.
Por incrível que pareça, muitas pessoas ainda confundem estes termos... Inclusive tenho presenciado várias situações que comprovam estas colocações. Há alguns anos, tive o privilégio de atender uma criança, na época com aproximadamente 9 anos de idade. Esta criança é portadora de Retinopatia da Prematuridade (graus I e II) e catarata congênita (afácico), no entanto, não utilizava seu resíduo visual para nenhuma atividade diária, apresentava dificuldades no caminhar, falar e expressar-se, segundo avaliações realizadas pela equipe, todos os comprometimentos eram de ordem emocional, salvo alguns atrasos motores devido a ausência de estímulos.
Quando iniciei a avaliação funcional visual, me surpreendi com as repostas, e, mais ainda quando percebi que a mesma teria possibilidade de uma aprendizagem através da escrita em negro (até então a criança estava sendo alfabetizada no Braille pela terceira tentativa consecutiva). Então, após inúmeros atendimentos, avaliações (inclusive oftalmológica, claro!) e Estudos de Casos freqüentes, em parceria com a oftalmologista, decidimos alfabetizá-la no negro. Foi uma reviravolta, a professora de Sala de Aula, bem como, a maioria dos profissionais da Escola Especial, acharam um erro. Fizeram inúmeras reuniões, inclusive com a presença da oftalmologista, na tentativa de compreender o caso, pois, para todos, tratava-se de uma criança cega. A professora, temerosa pela situação de mudança, veio ao meu encontro com a figura de um sino (estava em período natalino). A figura tomava toda a folha ofício A4. A professora alegou que havia mostrado a figura à criança e perguntado se ela estava vendo a figura. A criança disse que não. Então, solicitei que esta me trouxesse a criança para uma demonstração. Após a saída da professora, peguei uma nova folha ofício A4, fiz um único ponto com uma caneta preta comum (bic ponta grossa), quase no centro da folha e, quando chegaram, perguntei a criança se poderia me ajudar a encontrar um ponto que havia perdido na folha. A professora ficou surpresa com a rapidez que o ponto foi encontrado pela criança e a satisfação que sentia por ter ajudado foi tamanha que há muito não se ouvia sua voz, mesmo assim em tom firme e alto ela dizia: - Não fica triste, não. Ta aqui ó...
Acredito que esta experiência é suficiente para comprovar a diferença entre o “ver” e o “olhar”. É preciso seguir critérios para se avaliar essas crianças. Procurar, pesquisar, experimentar junto com ela.
Mas, para isto, inicialmente, se faz necessário um melhor esclarecimento quanto à relação da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e do processo de aprendizagem. Devem ser levadas em conta suas condições físicas, mentais, sociais, cognitivas, enfim... devemos olhar para ela como um todo e em partes também.
Um deficiente visual portador de baixa visão possui uma incapacidade para “ver” e conhecer visualmente o mundo em sua volta. No entanto, suas capacidades e seu potencial sendo estimulado propiciarão o desenvolvimento visual, bem como de suas habilidades visuais que consistem o ato de “olhar”.
A identificação e o tratamento precoce de distúrbios oculares na infância constituem prioridades para os programas de prevenção da cegueira. As medidas preventivas devem ser planejadas e estabelecidas, pois, esses programas visam a preservação e/ou melhoria da visão, contribuindo, assim, para o alcance de melhor qualidade de vida e baseia-se na necessidade de identificar e tratar pessoas, ainda em tempo de manter a própria independência.
Conforme BARRAGA (1978), a aprendizagem visual depende não apenas do olho, mas também da capacidade do cérebro de realizar as funções. A capacidade de funcionamento visual da criança depende fundamentalmente de seu desenvolvimento. Quanto mais a criança é estimulada a olhar, principalmente em pequena distância, mais estimula os canais perceptivos para o cérebro. Conforme o cérebro recebe mais e mais informações, há uma eventual acumulação de variedades de imagens em sua memória visual ainda em amadurecimento.
Pode-se deduzir então que percepção e cognição parecem ser processos interdependentes, e que variam de pessoa para pessoa, de acordo com a fisiologia do olho e os seus caracteres psicomotores, cognitivos e afetivos (condições emocionais e sócio-emocionais).
Portanto, a problemática social que envolve a criança com visão prejudicada é extremamente abrangente, variante de sua habilitação ou reabilitação, dependentes de um processo educacional que a prepare para ser independente.
A criança com baixa visão, sem dúvida alguma, apresenta falhas na percepção da realidade que a cerca, bem como das formas, tamanhos e cores dos objetos. Daí a dificuldade de se utilizar livros comuns, mesmo ampliados, nesta fase da aprendizagem, uma vez que estes apresentam pluralidade de formas e cores, impossíveis de serem percebidas e interpretadas.
Faz-se necessário redimensionar a interpretação a que a percepção consiste apenas na capacidade de registro de informações sensoriais para que haja uma concepção do aprendizado, entre outros, com ênfase na memória visual, no raciocínio, na atenção, na estratégia de resolução de problemas e nos conceitos específicos.
Esse contexto se mostra convincente para redimensionar o padrão clínico para um enfoque educacional cujo parecer está em equilibrar o desenvolvimento da percepção visual com as demais áreas do desenvolvimento infantil, visando assim à globalização na evolução de suas habilidades. Tendo em vista esta problemática, torna-se necessário que a criança aprenda a usar sua visão para identificar e discriminar estímulos visuais, a princípio, simples e isolados, devendo gradativamente atingir estímulos mais complexos. As formas geométricas simples são indicadas para desenvolver, inicialmente, na criança, a habilidade de identificar, discriminar e perceber estímulos visuais.
O tempo de aprendizagem de uma criança com baixa visão varia de acordo com as condições e estímulos que serão oferecidos a ela. Concordando com Kato (1995), quando faz alusão a velocidade e precisão com que uma palavra é percebida ou lida, assim também a aprendizagem visual de caracteres varia de acordo com o registro no léxico visual pela freqüência como o leitor já foi exposto estando acoplado ao seu sentido, pelo conhecimento de regras e imposições a que está sujeita e da capacidade de raciocínio que lhe permite também antecipar itens ainda não vistos.
A "Estimulação Visual" abrange um conjunto de procedimentos sensibilizadores da habilidade perceptiva visual, visando o emprego adequado da visão da criança com comprometimentos ópticos diversos, não passíveis de correção refrativa satisfatória, que acarreta complicações em seu desenvolvimento global da aprendizagem e no desempenho da vida cotidiana.
Portanto, só após um trabalho criterioso e bem dosado é que a criança com resíduo visual será capaz de identificar e discriminar formas, figuras, letras, palavras e frases. Necessário se faz adaptar recursos didáticos e utilizar o sistema de escrita e leitura ideais para as condições visuais desta criança. No entanto, não obstante à limitação sensorial, estas crianças gozam da mesma capacidade que desenvolvemos na infância, ou seja, de construir conhecimentos a partir da interação com o meio ambiente, da relação com as pessoas, objetos e acontecimentos, levando-nos a tomar consciência de nossa existência individualizada, do outro e do mundo ao nosso redor, identificando-se com as demais pessoas humanas.
A estimulação do pensar, agir e processar são fatos importantes. Porém, de nada valem se não houver interesse por parte do educador em conhecer e interagir com a criança, ou seja, identificando suas diferentes fases, sejam físico-motoras, cognitivas, visuais e outras, visando o aluno como um ser construtivo. A aprendizagem só acontece diante de um ensino dinâmico, concreto e participativo, vigente de uma mudança na conduta, analisada em diferentes ângulos.
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"Muitas mudanças ocorreram nos últimos vinte anos, quando teve início a prática da Baixa Visão em nosso país. O oftalmologista brasileiro, porém, ainda não se conscientizou da responsabilidade que lhe cabe ao determinar se o paciente deve ou não receber um tratamento específico nessa área. Infelizmente, a grande maioria dos pacientes atendidos e tratados permanece sem orientação, convivendo, por muitos anos com uma condição de cegueira desnecessária." (VEITZMAN, 2000, p.3)

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NÃO ESQUEÇA!....

NÃO ESQUEÇA!....

FONTES PARA PESQUISA

  • A VIDA DO BEBÊ - DR. RINALDO DE LAMARE
  • COLEÇÃO DE MANUAIS BÁSICOS CBO - CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
  • DIDÁTICA: UMA HISTÓRIA REFLEXIVA -PROFª ANGÉLICA RUSSO
  • EDUCAÇÃO INFANTIL: Estratégias o Orientação Pedagógica para Educação de Crianças com Necessidades Educativas Visuais - MARILDA M. G. BRUNO
  • REVISTA BENJAMIN CONSTANT - INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT