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16 de ago. de 2008

A IMPORTÂNCIA DO PRIMEIRO PASSO


 Muitas pessoas têm enviado mensagens pela internet ou por via telefone solicitando ajuda, informações e sugestões para trabalhos com portadores de baixa visão. Alguns são familiares (pais numa maioria) ou profissionais inseridos em salas para atendimentos a deficientes visuais sem nenhum preparo prévio ou até mesmo com conhecimento básico, mas inseguros com relação à prática.
Sabemos que os atendimentos às pessoas com resíduo visual têm sido realizados, numa maioria de forma intuitiva, variantes ao interesse do profissional responsável pelo serviço. Além disso, é grande a dificuldade ao acesso de informações, bem como, as técnicas e métodos de avaliação e aplicação de programas, além do apoio profissional ser insuficiente.
A estimulação e reabilitação visual destina-se à aquisição de habilidades, formação de atitudes e noções que estimularão o desenvolvimento percepto-cognitivo da pessoa com resíduo visual, levando-a a buscar soluções para o crescimento de seu raciocínio lógico e abstrato, bem como para problemas ligados à sua vida, de forma interativa, estabelecendo relações lógicas entre ela e o mundo de cores e formas que a cerca.
Para isto, necessário se faz a ciência da diferença entre acuidade e funcionalidade visual. A acuidade visual é a capacidade de discriminação de formas, medida por Oftalmologistas por meio de apresentações de linhas, símbolos ou letras em tamanhos diversificados. A pessoa com baixa acuidade visual apresenta dificuldades para perceber formas, sejam de perto, longe, ou em ambas as situações (Souza, et al., 2005). A funcionalidade visual seria o desempenho visual, da maneira como as pessoas apreendem o mundo externo, como organizam ou reorganizam a sua percepção. De acordo com Amiralian (2004, p.21): "a falta de clareza sobre o que realmente significa enxergar menos leva a uma fragilidade do conceito que identifica o que é e como se constitui a pessoa com baixa visão”. Para esta autora, a falta de identificação dessas pessoas como sujeitos de baixa visão e o deslocamento de seu déficit visual para outras áreas, dificultam sua educação e/ou reeducação e a formação de sua personalidade.
É preciso desenvolver a capacidade, trabalhar os conceitos, organizar e reorganizar a percepção visual, estimulando habilidades viso-cognitiva, trabalhando atividades de vida diária e orientação e locomoção, harmonizando uma evolução global.
Toda aprendizagem tem que ser feita através de experiências concretas e vividas com o corpo interior. Vayer diz que a criança precisa “agir, falar, constatar, controlar, corrigir e descobrir para depois interiorizar”, no entanto, Piaget afirma que não basta agir, é imprescindível refletir sobre as ações realizadas para que ocorra a significação.
A criança possui uma mente absorvente e, tendo em vista esta problemática, torna-se necessário que ela aprenda a usar sua visão para identificar e discriminar estímulos visuais.
Para Carvalho et al. (2002), os principais fatores que dificultam a integração de um aluno com baixa visão na escola são a aceitação e a flexibilidade, por parte de professores, das suas reais necessidades, limitações e habilidades. Isto ocorre devido falta de informações sobre as diversas características que esta criança possa apresentar, classificando-a como cega, ignorando sua capacidade visual. Muitas vezes, este comportamento ocasionará dificuldades na construção da personalidade por parte da criança, possivelmente provocará inúmeros questionamentos (quem sou? cego? vidente? Por que outros são capazes de perceber coisas que eu não percebo?) (AMIRALIAN, 2004).
Como critério de avaliação, deve-se direcionar o programa de atendimento para as bases da aprendizagem, ou seja, noções básicas (visuais) do período preparatório e, após o diagnóstico realizar um planejamento intercalando o material a ser utilizado (necessidade para a percepção visual) e o conteúdo a ser trabalhado (necessidade para função visual). No entanto, estas noções básicas somente devem ser trabalhadas quando a criança já possuir um poder de acomodação satisfatório.
Imaginamos uma criança que possua apenas percepção luminosa, com acomodação a luminosidade (cores) e escuro. Já consegue identificar quando a luz acende ou apaga e até as cores apresentadas com uso de lanterna e luz direta. O primeiro passo está na identificação da distância, perto/longe, ou do tamanho, grande/pequeno (neste caso poderão ser utilizadas lanternas grandes e pequenas). Sempre devemos ter o cuidado de trabalhar conteúdos de domínio e de objetivo, ou seja, se já é capaz de identificar as cores poderá ser feita atividades lúdicas com esse objetivo, com o intuito de favorecer a confiança e a atenção da criança e, somente depois com a continuidade do atendimento, inserindo na atividade o propósito a ser alcançado (desenvolver mais uma capacidade da função visual).
Essa atividade é a chave para o pleno desenvolvimento das habilidades visuais. É preciso que o profissional esteja atento para as respostas fornecidas pela criança, seja, em suas palavras, postura e comportamentos. É fundamental que o conteúdo seja trabalhado de forma isolada, tendo o cuidado de facilitar o raciocínio da criança, sem exigir-lhe muito esforço evitando assim a fadiga, ou seja, primeiro exercitar o que já sabe pedindo a esta respostas do que vê e depois trabalhar para desenvolver uma habilidade sem cobranças de respostas, apenas estimulando para que estas brotem com naturalidade.
Assim sendo, uma das preocupações que se deve ter ao iniciar o processo de estímulos para desenvolver a interpretação de imagens (cor, formas, figuras e letras) está em identificar qual o nível de escolaridade da criança e qual conteúdo não-verbalizado está radicado. Segundo Piaget, o pensamento da criança ocorre de acordo com o estágio de desenvolvimento em que se encontra.
Existem inúmeros recursos que podem facilitar e somatizar a aquisição de habilidades visuais seja no lar, na escola, no lazer... As adaptações realizadas com relação ao conteúdo escolar, no ambiente familiar, no ambiente de lazer contam com o apoio do profissional, técnico em baixa visão, em parceria com familiares e voluntários.
Vale salientar que o atendimento de estimulação visual não correspondem aos atendimentos realizados em sala de aula, afinal, nas escola se trabalha o conteúdo, o objetivo maior está em adquirir conhecimentos; na estimulação visual se trabalha o funcionamento visual, o objetivo maior está em adquirir capacidades e habilidades visuais. Existem também, os serviços de assessoria familiar e escolar. No entanto, este tema ficará para uma próxima postagem.
BIBLIOGRAFIA:
AMIRALIAN, M. L.T.M. Sou cego ou enxergo? As questões da baixa visão. Revista Educar, Curitiba, n. 23, p. 15-28, 2004.
CARVALHO, K. M. M.; et al. Visão subnormal: orientações ao professor do ensino regular. 3 ed. rev. Campinas: Ed.UNICAMP, 2002.
SOUZA, A. D.; BOSA, C. A.; HUGO, C.N. As Relações entre deficiência visual congênita, condutas do espectro do autismo e estilo materno de Interação. Revista de Estudos de Psicologia, v. 22, n. 4, p 355-364, 2005.
VENTORINI, Silvia Elena. A experiência como fator determinante na representação espacial do deficiente visual / Silvia Elena Ventorini. – Rio Claro: [s.n.], 2007. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas
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"Muitas mudanças ocorreram nos últimos vinte anos, quando teve início a prática da Baixa Visão em nosso país. O oftalmologista brasileiro, porém, ainda não se conscientizou da responsabilidade que lhe cabe ao determinar se o paciente deve ou não receber um tratamento específico nessa área. Infelizmente, a grande maioria dos pacientes atendidos e tratados permanece sem orientação, convivendo, por muitos anos com uma condição de cegueira desnecessária." (VEITZMAN, 2000, p.3)

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NÃO ESQUEÇA!....

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FONTES PARA PESQUISA

  • A VIDA DO BEBÊ - DR. RINALDO DE LAMARE
  • COLEÇÃO DE MANUAIS BÁSICOS CBO - CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
  • DIDÁTICA: UMA HISTÓRIA REFLEXIVA -PROFª ANGÉLICA RUSSO
  • EDUCAÇÃO INFANTIL: Estratégias o Orientação Pedagógica para Educação de Crianças com Necessidades Educativas Visuais - MARILDA M. G. BRUNO
  • REVISTA BENJAMIN CONSTANT - INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT