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12 de nov. de 2008

“VER” E “ENXERGAR” – O QUE FAZER?



A compreensão do distúrbio ocular é que possibilita o profissional identificar as dificuldades da criança com baixa visão na realização de tarefas visuais. É este resíduo visual que os profissionais, estimuladores visuais, tentam maximizar para melhor utilização das capacidades e habilidades desta criança para completar uma tarefa. No entanto, os problemas visuais são bem mais complexos.
A compreensão dos efeitos funcionais de uma determinada patologia valoriza uma avaliação individual considerando todos os fenômenos da função visual existente e aplicando atividades de interesse que a criança deseja conseguir (GILBERT; FAYE; in VEITZMAN, 2000). Assim, a criança se desenvolve num contexto de fases progressivas de maturidade. Entretanto, para que esta possa atingir plenamente seu potencial, é preciso que o profissional reconheça a necessidade deste desenvolvimento e descubra o estilo próprio ou o método de crescimento da criança.
Diante de tantas controvérsias, importante se faz refletir sobre o valor do enxergar e do ver. Será que é importante? É fundamental? Se você pudesse escolher entre realizar atendimentos criteriosos no decorrer de sua maturidade para enxergar e/ou realizar treinos no início de sua maturidade para adaptar-se a cegueira, o que faria?
Para isto, é importante esclarecer a diferença entre o “ver” e o “enxergar”. A criança está “vendo” quando responde mecanicamente a estímulos visuais (reflexos pupilares), como no uso da luz da lanterna. A criança está “enxergando” quando decifra mecanicamente as imagens, seja em sua composição, cores, formas e tamanhos.
“A imagem é uma elaboração complexa prenhe de significados e interpretações que depende de uma rede de informações, convenções e interações sociais que não opera de modo linear. Os significados não são fixos e não existe uma lógica especial que permita interpretação determinante de seus sentidos. O sentido, enredado em camadas de sensações, acepções, se torna, por isso mesmo, multireferencial.” (MARTINS, 2004, p.1)
Nós construímos de maneira ativa as concepções de mundo através de representações, significados e interpretações. Os significados que nós (videntes) atribuímos a imagens e visualidades, assim como os processos de interpretação que utilizamos, são elementos constitutivos da experiência visual.
Existem muitos conceitos errados nas mentes de pessoas com baixa visão, assim como nas atitudes dos que cuidam ou vivem com elas. Muitas pessoas acham que a visão é um produto que se esgotará se você usá-la demais. As pessoas acham que você não deveria usar seus olhos para ler ou ver televisão de perto se houver apenas algum resíduo visual, pois isto poderia fazer com que a visão se estrague mais adiante. Isto é absolutamente falso. As pessoas com baixa visão precisam ser incentivadas a fazer uso de qualquer visão que lhes reste, e, há uma enorme variedade de formas para que isto seja feito. Este conceito aplica-se principalmente a pais de crianças pequenas que precisam encorajá-la a explorar o mundo da forma que elas possam, o que significa o uso da sua visão residual. Isto pode significar a aproximação dos objetos bem perto de seus olhos. (GILBERT; in VEITZMAN, 2000)
Através do método dialógico, interativo e lúdico é possível analisar e aplicar atividades para desenvolver o processo de evolução global, identificando o nível no qual a criança se encontra (avaliações constantes para inserção de uma nova fase de atendimento) e suas possibilidades de aprendizagem para elaboração de um plano pedagógico.
Os profissionais de estimulação e reabilitação visual procuram contar com a participação da família como intermediária durante o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança, permitindo assim compreender as preferências, possibilidades, dificuldades e necessidades apresentadas no decorrer dos procedimentos, buscando também, além dos familiares, diversos tipos de apoio e ajudas durante a realização e articulações do programa de atendimento e de suas intervenções pedagógicas.
Segundo BARRAGA (1985), a aprendizagem visual depende não apenas do olho, mas também da capacidade do cérebro de realizar as funções. Conforme o cérebro recebe mais e mais informações, há uma eventual acumulação de variedades de imagens visuais. As funções visual-cognitivas, já apresentadas anteriormente, tendem melhorar a conscientização e utilização do resíduo visual existente, em ambientes coloridos, visando despertar-lhe o interesse em conhecer visualmente o ambiente que estiver inserida. Sendo assim, este se tornou o principal objetivo. Afinal, segundo VYGOTSKY (1930, p. 126): “A criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos”.
O tempo de aprendizagem de uma criança deficiente visual varia de acordo com as condições e estímulos que serão oferecidos a ela, como nos explica KATO:
“A velocidade e a precisão com que uma palavra é percebida ou lida, depende, a) de a palavra estar registrada no léxico visual pela freqüência com que o leitor já foi exposto a ela e por ter a ela acoplado o seu sentido; b) do conhecimento de regras e imposições fonotática-ortográficas, sintáticas, semântico-programáticas, colocacionais e estatísticas a que a palavra está sujeita e do uso adequado e suficiente dessas restrições para pré-dizer e confirmar sua forma e conteúdo; e c) Da capacidade de raciocínio inferencial do leitor que lhe permite também antecipar itens ainda não vistos”.” (KATO, 1995, p. 39)
É importante que o professor especializado conheça a classificação para interpretação do relatório oftalmológico, mas, que não deve ser utilizada como parâmetro para inclusão de alunos em programas de baixa visão. Entretanto, mesmo interpretando prontuários e relatórios médicos, Alguns profissionais atuantes na estimulação visual, normalmente, desenvolvem seu trabalho sem saber o que vem a ser o processo de aquisição da visão, e considera sua tarefa cumprida quando termina a aplicação de técnicas e recursos. Geralmente isso ocorre quando se chega ao fim das possibilidades, independentemente de sua metodologia. Essa dificuldade de entender o processo de viso-cognitivo faz com que o estimulador não tenha como avaliar seu trabalho, buscar o porquê, uma maneira de intervir e propor soluções para atingir de forma consciente a construção / reconstrução da imagem. É importante desenvolver a maturidade quanto ao reconhecimento oral da linguagem com base na identificação da etapa de desenvolvimento da criança, pois, afinal de contas, ela é o principal caminho em seu processo visual.
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"Muitas mudanças ocorreram nos últimos vinte anos, quando teve início a prática da Baixa Visão em nosso país. O oftalmologista brasileiro, porém, ainda não se conscientizou da responsabilidade que lhe cabe ao determinar se o paciente deve ou não receber um tratamento específico nessa área. Infelizmente, a grande maioria dos pacientes atendidos e tratados permanece sem orientação, convivendo, por muitos anos com uma condição de cegueira desnecessária." (VEITZMAN, 2000, p.3)

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FONTES PARA PESQUISA

  • A VIDA DO BEBÊ - DR. RINALDO DE LAMARE
  • COLEÇÃO DE MANUAIS BÁSICOS CBO - CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
  • DIDÁTICA: UMA HISTÓRIA REFLEXIVA -PROFª ANGÉLICA RUSSO
  • EDUCAÇÃO INFANTIL: Estratégias o Orientação Pedagógica para Educação de Crianças com Necessidades Educativas Visuais - MARILDA M. G. BRUNO
  • REVISTA BENJAMIN CONSTANT - INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT