”Integrar a função visual em todas as atividades cotidianas incentiva a formação de novas redes neurais para a aprendizagem funcional e significativa”
Existem diversos textos que abordam as alterações da função visual em crianças com baixa visão relacionando às importantes fases do desenvolvimento infantil. Porém ainda há pouco material voltado para o sentido prático a respeito de disfunção visual cerebral, e a relação dos cuidados para favorecer situações lúdicas.
E quando fica difícil brincar para a criança com baixa visão?
Em primeiro lugar precisamos perceber seus interesses e entender porque está difícil a criança com baixa visão brincar ou interagir. Para compor um programa de intervenção é necessário fazer previamente uma avaliação funcional da visão por um terapeuta especializado nesta área. O avaliador precisa conhecer os componentes específicos da função visual no desenvolvimento infantil para planejar as atividades de acordo com o perfil da criança e nível cognitivo.
O que é necessário observar?
-observar as habilidades e inabilidades visuais específicas da criança. As funções visuais serão avaliadas integradas ao desenvolvimento global da criança com o objetivo de adequar COMO a criança pode brincar de acordo com a sua faixa etária e interesse, no sentido de colocar em prática formas de ela aproveitar os momentos das brincadeiras.
-apropriação do brinquedo- a cor ou o tamanho inadequado dos brinquedos pode interferir no desejo de pegar um brinquedo e de fazer as descobertas próprias da infância.
-tempo de atenção e concentração – é comum vermos crianças que precisam da ajuda do adulto para iniciar, dar continuidade e/ou finalizar a brincadeira. As brincadeiras simples que se repetem e viram aprendizagem podem ficar comprometidas devido à dificuldade de se manter a atenção e sustentar o desejo pelo brincar espontaneamente, bem como organizar os passos para isto, sinais que podem ocorrer em pessoas que tem alguma lesão cerebral.
-observar se há aumento ou diminuição de tônus muscular, pois isto pode ser um elemento que dificulta a exploração e expressão da criança e, inclusive, a manifestação de interesse e suas primeiras descobertas do que quer e do que pode, nas coisas mais simples, como tocar o rosto da mãe, tocar o próprio corpo. Por isso também é importante o trabalho de manuseio* para organização postural e regulação de tônus.
-tempo de brincar – observar o tempo de perceber e o tempo de dar respostas. Uma vivência muito rápida das experimentações do mundo pode não virar conhecimento. Se não houver tempo para criança experimentar e repetir espontaneamente uma brincadeira será mais difícil de ser incorporada, no sentido literal da palavra. O tempo de receber, processar a informação e responder à demanda do próprio corpo e do meio é diferente para algumas crianças com baixa visão de origem central.
- ambiente e comportamento- quando um ambiente não é favorável para o desenvolvimento infantil, será mais ainda para uma criança que, no mínimo, tem uma alteração motora e/ou sensorial. No entanto o ser vivo tem uma capacidade enorme de se adaptar constantemente ao meio ambiente e construir diversas formas de viver e se relacionar, desde que tenha oportunidades. Para isso é necessário na avaliação, a terapeuta ocupacional reconhecer quais os dispositivos do ambiente que dificultam ou facilitam o engajamento da criança em todas as brincadeiras.
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