16/09/2011 - 23:09
Benjamin Constant celebra seu 17º aniversário em plena produção
Pioneiro na educação inclusiva, com inúmeros exemplos de ex-alunos que se integraram plenamente à vida social e ao mercado de trabalho, o Instituto Benjamin Constant (IBC) aniversaria, neste sábado, em plena produção.
O IBC trata da capacitação de professores para escolas regulares, da produção de material didático para deficientes visuais e da formação básica de alunos em suas próprias dependências. O IBC quer agora firmar convênios com universidade para que possa emitir certificados para cursos de pós-graduação.
"Sem contar a qualificação em Braile, o IBC forma 400 profissionais por ano. Todo o material que produzimos é distribuído gratuitamente e serve para a escola convencional também", informa a professora Veléria Aljan, da Divisão de Capacitação de Recursos Humanos.
Nesta entrevista exclusiva ao MM, Valéria esclarece, porém, que o instituto não pretende se tornar uma universidade: "Educação é uma coisa só. O deficiente visual não precisa de uma universidade, mas de recursos específicos para ler e escrever", pondera, acrescentando que é por esse motivo que as aulas para cegos são ministradas apenas até o ensino fundamental.
O MEC também capacita profissionais para o trabalho com deficientes visuais?
Sim, mas os cursos do IBC são presenciais, de 40 horas, não são palestras. E os professores voltam. Quem fez curso de Braile, volta para fazer curso de estimulação precoce ou alfabetização em Braile. O profissional vai ampliando sua visão sobre como trabalhar com uma pessoa cega.
O IBC pretende ministrar cursos em nível de pós-graduação?
Estamos buscando com as universidades uma parceria para certificação, pois não somos instituição de curso superior e precisamos certificar para a pós-graduação. Mas, para a questão específica da deficiência visual, temos expertise.
O instituto poderá se tornar uma universidade?
Não queremos ser uma universidade. Educação é uma coisa só. Diferente da questão do surdo, que tem uma linguagem, o cego usa a língua do país, e apenas escreve em Braile. Não precisa de uma universidade, mas de recursos específicos para ler e escrever, como mapas em alto-relevo, programas de voz.
Qual a importância da escola de ensino fundamental que funciona das dependências do IBC?
Não existe nada que limite a inclusão do cego à escola comum, mas nossa escola é fundamental para desenvolver o expertise para trabalhar com a pessoa cega. O material que produzimos é para ser usado na escola regular, até porque é produzido também em tinta, para que o professor que não conhece o Braile possa acompanhar. Mas é feito aqui e encaminhado gratuitamente para as escolas. O material é testado aqui e seu desenvolvimento começou quando pensamos em produzir para nossos alunos. Depois vimos que poderia ser enviado para todos.
Poderia informar alguns números dessa produção?
Além do material impresso, há vários que podem ser baixados do site do IBC e impressos na impressora Braile. Desde 2002, já editamos cerca de 60 livros adaptados e transcritos. São livros didáticos e para-didáticos. E não é só o IBC que imprime, mas qualquer instituição que possua impressora em Braile. Procuramos, inclusive, tornar esse material atraente para o aluno que enxerga.
Há cursos de capacitação a distância?
Sim, mas ainda temos de superar problemas de plataforma. Algumas delas não aceitam recursos do dos-voz (programa para deficientes visuais).
É correto afirmar que o IBC é uma escola segregacionista?
Não. O IBC apóia a inclusão há anos. Fomos o primeiro braço da inclusão desde que fizemos o primeiro curso de professores do Brasil. E sempre trabalhamos com crianças. Hoje o IBC tem muitas pessoas incluídas na sociedade e mercado de trabalho, que sem a chamada segregação talvez não tivessem tanto sucesso. São advogados, músicos, empresários, Muitos que passaram pelo instituto e estão totalmente incluídos estão hoje, por exemplo, na Advocacia Geral da União (AGU), que possui quatro ex-alunos nossos procuradores. Outros são defensores públicos, doutores nas mais diversas áreas do conhecimento. Um espaço segregador não forma pessoas incluídas. Segregar diminui possibilidade de crescimento pessoal.
Mas o IBC não começou com modelo segregacionista?
Sim, mas devemos considerar que a instituição nasceu no século XIX, mas nem aquele modelo era tão segregador. Já no início do século XX as pessoas daqui formavam associações no Brasil inteiro. É uma visão equivocada a partir da idéia de que só admitimos pessoas com deficiência visual. Mas há inúmeras escolas religiosas abertas para todos> Mas predominam entre os alunos os que são adeptos de determinada religião. Há também várias escolas direcionadas para os estrangeiros que vivem aqui. Por que para eles a escola não é segregacionista?
O IBC é também uma escola regular?
Sim, pois tem certificação para isso. Essa atuação mostra que somos a favor da educação inclusiva. Dizer que a escola especializada segrega não é correto. Quantas pessoas o IBC formou? Inúmeras, mas sempre tivemos somente até o ensino fundamental. Historicamente, nunca tivemos Segundo Grau.
Por quê?
Porque acreditamos na escola especializada dentro do ensino fundamental, porque ali está a base. Nessa fase, o aluno terá domínio do Braile. Hoje há uma tendência forte de abandono do sistema Braile, que pode ser substituído pelo digital.
Quais os riscos dessa substituição?
A grande luta hoje é que o sistema Braile é um sistema de escrita. É a mesma coisa do livro em tinta e do computador. O computador nunca anulará o livro, nem o sistema Braile, pois há contato com o papel, com a escrita. Infelizmente, atualmente há quem nunca tenha aprendido Braile. Isso não é bom.
É necessário adaptar o teclado do computador para o Braile?
Não.
Quais os mais recentes investimentos do IBC?
Capacitação é sempre especial. Estamos propondo a criação de um departamento específico para pesquisa e capacitação, inclusive com pós-graduação e mestrado. O resto já fazemos.
Compramos também uma máquina nova, a Pulmann 8, que produz desenhos que o programa Braile Fácil não é capaz de fazer. A nova máquina possui uma ferramenta de transcrição (de livros) que descreve tudo o que não é passível ser transcrito.
Rogério Lessa
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